terça-feira, 31 de agosto de 2010

vazia


Pintei os lábios, saquei o delineador, passei delicadamente sobre minha pálpebra, conferi o blushe o sorriso. Estava tudo ótimo, aparentemente perfeito. Cabelo, look, make up completo!
Já eram quase onze da noite, a buzina soou. Desci as escadas, peguei a bolsa e entrei no carro. Era a Jenny, estávamos preparadas pra mais uma noite daquelas.
Chegamos e já ocupamos nossas mãos com tulipas de chopp. Fomos até a nossa mesa habitual e sentamos a espera de uma música que pudéssemos começar de fato a noite.
Veio a música, levantei e fui pra pista dançar. No caminho esbarrei com "ele". Doeu! Não pelo esbarro, mas pelo olhar dele. Frio, indiferente, pra ser exata. Toda a minha alegria, meio que se escondeu. Tentei me fazer de forte e indiferente também, mas por dentro estava sangrando.
Dancei o máximo que pude, tentando mostrar pra ele que eu estava bem, que ele não fazia falta. Que a presença dele ali não me atingia em nada. Que o nosso namoro já estava esquecido e enterrado em algum canto do passado. Mas como eu poderia enganar ele se na verdade o que eu estava fazendo era me enganando? Estava maquiando algo que me feria cruelmente.
Um carinha da facu, o Biel, se aproximou de mim, querendo dançar. Ele veio devagar, como quem não queria nada além de uma dança. Pôs seus braços ao redor da minha cintura, foi chegando mais perto, e mais perto, falando de mansinho no meu ouvido, até que me beijou. Na hora eu fiquei com raiva, porque o "cara" estava ali, vendo tudo, e jamais, pelo menos na minha cabeça, me perdoaria. Ledo engano, ele não estava nem ai pra mim ou pra qualquer babaca que se aproximasse de mim. Mas, depois me desliguei e comecei a curtir. Jenny sempre foi apaixona pelo Jonny, e lá estava ele, pronto pra receber todo o carinho que ela tinha a dar. Bebi o quanto pude, dancei até me acabar e fomos todos pra casa do Biel.
Passamos a noite juntos, eu e o Biel. Quando acordei, senti um nó na garganta. Meu coração e eu, num todo estava vazia. Peguei minhas coisas e deixei todos lá dormindo. Peguei o primeiro táxi e fui pra casa, ainda tonta e com uma dor insuportável na cabeça. No caminho olhando pela janela, comecei a refletir sobre tudo o que me levou àquele momento. Todas as coisas e pessoas a quem me entreguei sem o menor pudor, tudo o que fiz por ter colocado pessoas no centro do meumundinho. O fato de não conseguir tirar da minha cabeça e do meu coração alguém que só me faz mal, que é indiferente a tudo o que sinto, que nunca quis estar de verdade comigo. Vivo num meio onde todo mundo quer tudo imediato, pronto, ali na hora. Se não for assim, não rola. A felicidade é instantânea, tipo miojo, e dura pouco. Um mundo vazio de pessoas vazias, cujosobjetivos de vida são no fundo os mesmos que os meus, mas que não se dão o trabalho, e não querem admitir a verdade. Não querem sofrer, tem medo de se prender. De viver! Quem não se machuca, não costuma dar valor a vitória.
Um mundo imaturo e vendido, puro consumismo esse lugar em que eu vivo. A mídia comanda e eu sigo. Onde é muito mais válido ter do que ser. Não estou ausentando minha culpa não, de forma alguma. Só faço o que quero. será?
Não quero mais o vazio, o muito ter, e o pouco ser, to cansando disso. Quero olhar nos olhos de alguém e ter a certeza de que essa pessoa me ama pelo que sou e exatamente como sou.
Agora eu só quero deitar na minha cama sem a toda essa maquiagem no rosto e na vida, com o meu violão, e ter alguém pra me embalar, tocando músicas de ninar. Sou uma criança perdida, precisando de um rumo, ou talvez um simples abraço.

"Com receio de sofrer, homens realizam vasectomia no coração.
Com receio de sofrer, mulheres fazem ligadura no coração.
Ambos tornam-se indiferentes e descrentes. Ambos sacrificam a fertilidade, o inesperado, o porvir. São enterrados de pé. Viver não é racionar o que se conhece. O que se conhece é insuficiente. Os riscos fazem parte da euforia.Como a dor, a alegria também pode ser insuportável. Por receio da alegria, sofremos."

(Fabrício Carpinejar)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

meios sorrisos


Saí no meio da tarde, sem rumo certo. Me conformar não é mais uma opção, ou me conformo, ou me conformo. Espernear feito criança não vai me adiantar nada, chorar desconsolada, menos ainda. Só vou me desgastar, e nada vai mudar. Tudo o que penso a respeito da distância me massacra a cada minuto que passa e faz com que me aproxime mais e mais da derradeira hora, a hora de mais uma partida. Nada é válido quando se trata de amor e saudade? Mas é claro que tudo é válido, desde que eu não passe por cima dos sentimentos alheios e do meu amor próprio.
Andando devagar pela rua, me vi num turbilhão de sentimentos, e o que eu mais queria era me alimentar da presença dele, aquela presença que tanto esperei e que pouco senti. Mas nada na vida é como eu quero ou espero. Parte do meu sorriso me foi tirado com a mesma velocidade que me foi dado. O sorriso largo já não brilha tanto, já não é o mesmo, eu não sou amesma.
Olho pro relógio e tento não sofrer por saber que esse é o nosso "ultimo encontro". Odeio despedidas, e só de pensar novamente que vou ficar mais 2 meses longe de você, me dói o peito, e a lágrimas imediatamente vem aos olhos. Penso que pouco fiquei contigo e que hoje você é muito mais do mar do que meu. Passa mais tempo sobre as águas nada calmas de oceanos medonhos do que envolvido pelos meus braços cheios de amor e carinho. Não sou egoísta, mas essa divisão tem sido muito desproporcional.
Agora meu maior desejo é correr de encontro ao teu abraço apertado, e pedir que fique comigo até o navio sair novamente.
Chegando perto da lagoa, levada como que automaticamente para aqueles cantos, me vi próxima a da casa dele, e logo reconheci seus olhos negros a me observar. Olhos que sorriam por me ver, por encontrarem em mim um porto seguro para se abrigarem. Segurei sua mão e subimos até o telhado, como que pra nos refugiarmos desse mundo sofredor e cruel.
Deitei nos seus braços e ficamos conversando horas a fio. - Eu estive assim com tantos outros antes de você, mas eu sinto como se fosse a primeira vez. - Eu lhe disse com uma parte de sorriso que ainda tinha em mim.
Ele veio mais perto, passou a outra mão em torno do meu corpo e me beijou delicadamente, num fim de tarde perfeito, mesmo com tantas adversidades.
Tempo, seja meenos cruel com esse pobre coração cansado de sofrer, eu não quero bater de frente contigo, peço apenas que passe logo e me faça sorrir um sorriso completo de vez.

beijos, amor.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Me namora


Pura ansiedade. Olhava por cima do muro de cinco em cinco minutos. Nenhum sinal do carro preto que traria boas novas, ou pelo menos assim esperava eu. Batia os pés e mãos, coçava a cabeça e nada.
Tantas incerteza dentro de mim. Sentimentos confusos, como sempre. A única certeza, era o amor. Imenso, forte, imponente, mas impotente frente toda aquela dúvida sobre os teus sentimentos e incertezas.
Tanta demora e finalmente um ponto preto se aproximava, tão lentamente que mal pude me aguentar. Desci as escadas quase que caindo, tremendo, rindo horrores, sem motivos. Aliás, ria de nervoso, por medo também, talvez, nem sei explicar o que aconteceu naquele momento.
Ele desceu do carro, despreocupado, como se nada demais estivesse prestes a acontecer. O meu futuro por alguns momentos não estava mais em minha mãos, mas sim nas mãos dele. Meu coração já pertencia àquele que tanto já me fez sofrer sem ao menos saber. Eu na maior parte do tempo sei muito bem me conter, na maioria das vezes falo pouco, mas com ele, com ele é diferente. As palavras saem com tanta facilidade, e até mesmo quando não saem, quando ficam presas num nó na garganta, por um sorriso e um abraço inesperados o silêncio não se torna constrangedor. Não me preocupo em estar só e em silêncio com ele, impossível descrever. É como se a nossa troca de olhares se transformasse em uma longa e bonita conversa.
Então ele veio devagar, com um sorriso besta, que me rir mais ainda. Apertou os olhos de um jeito bobo que só ele sabe fazer e me perguntou como foi o meu dia. E antes mesmo que eu pudesse responder, me envolveu num abraço forte e carinhoso. Sem saber como agir a única coisa que consegui responder foi - O dia tá bonito, eu to bem. Nem estava te esperando. - Quanta idiotice minha! Como eu pude dizer que não o estava esperando se ele mesmo havia marcado esse bendito encontro a dias atrás. Imediatamente levei minhas mãos ao rosto e quis me esconder.
Ele se aproximou um pouco mais, puxou minha mãos e as colocou em volta do seu pescoço.
Fiquei meio sem jeito, porque ele havia sentido minhas mãos frias, geladas e tensas.
Com a ponta de seus dedos ele tocou cada parte de minha face, como se quisesse gravar cada detalhe, cada falha, até. Pôs os fios de cabelo que cobriam parte do meu rosto para trás e me beijou tão delicadamente, que mal pude sentir que era real.
Ao terminar, baixei a cabeça, ainda sem jeito e ele novamente levantou-a e olhou fixo, dentro dos meus olhos. Sorriu um sorriso tão bonito, tão querido, se é que me entendem. Um sorriso meio de lado, com um olhar seguro e carinhoso.
Ficamos em silêncio por mais alguns minutos até que eu o convidei para entrar. Ainda estávamos parados no primeiro degrau da escada. Sentamos na varanda e minha pequena vira-lata pulou em cima dele, fez uma festa, como se soubesse a alegria que aquele ser me trazia também. Bem que dizem que os cães parecem com seu donos.
Conversamos durante horas, desde coisas bestas e bobas, como o tempo, futebol e estudos, até coisas mais relevantes (família, religião, trabalho). Rimos muito, a hora passou rápido por demais. Então a derradeira hora chegou. Ele teria que ir embora.
Relutando consigo mesmo, me disse que já estava tarde e que teria que acordar cedo. Nos levantamos e fui com ele até o ponto do nosso beijo, não foi o primeiro, mas para mim era como se tivesse sido o mais esperado, sem motivo aparente.
Assim que chegamos ao portão ele disse baixinho que precisava me perguntar algo importante. Da primeira vez não entendi, não ouvi muito bem e pedi que repetisse. E ele o fez e completou com a pergunta ainda mais embolado.
Toda aquela calma, falta de preocupação, sumiram. O pobrezinho começou a gaguejar, estava tenso. Pedi calma como se eu estivesse calma, haha.
Então sentamos nos degraus e olhando pro chão ele pediu desculpas. Pegou minha mão e agora olhando dentro de meus olhos finalmente perguntou de maneira límpida e sem gaguejar: - Camila, é que eu nervoso, eu nunca fiz isso antes. Me desculpa, mas é que eu não posso mais deixar isso passar. Você... você, é que eu , eu gostando de você e ficar assim perto de você sem saber como te apresentar pros outros não dá mais. Não posso ter essa incerteza do que você tá pensando e sentindo por por mim, não quero ter a incerteza de que tem outro cara prestes a te roubar de mim. É que eu, eu , eu quero namorar com você, entende? Eu quero poder sair contigo de mãos dadas e poder sem medo falar que tu é minha namorada, minha amiga só não é mais suficiente pra mim. Eu quero parar de falar da minha família e da sua, e começar a pensar num futuro nosso, nada meu ou seu, mas o nosso, juntos. -
Eu poderia esperar e cheguei a imaginar muitas coisas, mas nada passou perto daquilo. Superou todas as minhas expectativas.
Eu não pude falar nada, qualquer palavra diminuiria aquele momento.
Eu o abracei como nunca tinha feito antes e beijei seus lábios de um modo que meu beijo respondeu qualquer uma de suas duvidas. No fim de tudo sorrimos um do outro e no olhar já sabíamos o que o outro estava pensando.
Mais um abraço apertado e ele se foi, e não foi um abraço de despedida, mas sim de começo. O começo de uma longa e nada fácil história de amor.
Mas quem disse que a vida é fácil?

...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

escolhas


pois é eu não vivo em um conto de fadas. Minha vida não é perfeita e eu vivo tentando fazer com que as pessoas a minha volta sejam um pouco mais felizes. Eu juro, tento fazer tudo certo, mas as vezes o meu certo não parece tão bom assim pra outras pessoas.
Eu cresci com a minha mãe me educando, fazendo papel de "pãe". Sempre tive pouca intimidade com a palavra pai. Sei bem o significado, mas a prática não acontece pra mim. Foram poucas as vezes que pronunciei essa palavra sem ter dor, lágrimas ou até mesmo sem uma certa tristeza na voz. Sentada em frente ao mar, numa noite fria, onde o vento beija suavemente minha face começo a pensar nessa palavra tão pequena, mas tão complexa pra mim.
Penso nas vezes em que quis ter o meu pai ao meu lado e não pude. No dia dos pais na escola onde todos os pais estavam lá, mas faltava o meu. Na vez em que eu trouxe meu namorado em casa pela primeira vez, mas que não tinha aquela figura paterna lá pra recepciona-lo. Não pense que é fácil ou bom, porque não é. Tem dia que o que eu mais quero é que ele me ponha de castigo e determine uma hora certa pra chegar. Não que a minha mãe não faça isso. Ela cumpre muito bem o papel de mãe e algumas coisas de pai, mas é diferente. Por mais que ela tente suprir toda essa minha necessidade paterna, é difícil. Tento não transmitir nada pra ela, mas tem dias, como hoje, que são mais pesados, ruins. Fica difícil controlar a saudade. Sim saudade. Tenho uma saudade dentro de mim que vai além de qualquer memória existente. Saudade de algo que nunca existiu, uma relação que nunca foi forte, única. Sempre foi superficial, ausente e pouco lógica. Ser pai não é só passear fim de semana, não é só fazer grandes ou pequenas viagens. Ser pai e se preocupar verdadeiramente, é se fazer presente, mesmo ausente. É dar carinho e não só dinheiro. Só de pensar dói. Machuca.
Sentada aqui, olhando as luzes da cidade, peço a Deus que ilumine meu pensamentos e escolhas. Eu não quero colocar outro ser nesse mundo para que ele sofra o que eu sofri e ainda sofro. Eu aprendi com os erros dos outros. Eu não quero que a pessoa que viverá comigo, ao meu lado por toda a minha vida, seja indiferente, vazia. Mesmo que eu tenha que esperar mais 8 anos pra ter certeza de que é ele o cara certo. Porque quando acontecer, vai ser o melhor, o certo.
É triste, ou não, perceber que outras figuras masculinas foram mais presentes num papel de "pai" do que o meu próprio pai. As escolhas erradas dele, refletem em mim até hoje.
Eu o amo, muito, confesso. É meu pai, impossível mudar isso, ou mesmo substituir. Mesmo aos trancos e barrancos eu tento o aceitar assim. Dar valor aos pequenos momentos de paz e amor que temos.
Eu sei que um dia isso vai fazer falta, não só pra mim, mas pra ele também.
Quis achar o momento certo pra falar isso tudo. O dia dos pais não me pareceu muito adequado. É muita coisa na minha cabeça, é muita dor. Eu pareço forte, as vezes até me sinto segura de falar sobre, mas o segundo domingo de Agosto não costuma ser um dia fácil pra mim. Ir a Missa e escutar o Pe. falando coisas que eu peço a Deus em oração que o meu pai escute. E ao fim da Missa "aquela música" que me mata, acaba comigo. Eu sempre achei Fábio Júnior um saco, mas nesse dia, ele se torna insuportável. Entendam, toda muralha tem um ponto fraco, um ponto que se você souber "explorar" você pode desmoroná-la.
Vou continuar por aqui, olhando pro nada, o horizonte, talvez. Sentindo um abraço de Deus e pedindo a Ele que me faça enxergar dentro dos olhos do meu amado os mesmo desejos e objetivos que os meus.
E para os que dizem "você sabe que ela não se importa", bem eu me importo sim, e muito. Me importo porque eu vivo isso, de verdade. E não me permito errar, pelo menos não no que diz respeito a minha escolha de vida, uma escolha que vai influenciar a vida de outras pessoas. E como já disse no começo: eu vivo tentando fazer com que as pessoas a minha volta sejam um pouco mais felizes. E no que depender de mim, meu filhos serão os mais felizes e o meu marido será o melhor pai.
__________________________________________________

Pai, pode ser que daqui a algum tempo, haja tempo pra gente ser mais muito mais que dois grandes amigos, pai e filho talvez. Pai, pode ser que daí você sinta, qualquer coisa entre esses vinte ou trinta longos anos em busca de paz. Pai, pode crer, eu tô bem eu vou indo, tô tentando vivendo e pedindo com loucura pra você renascer. Pai, eu não faço questão de ser tudo, só não quero e não vou ficar mudo. Pra falar de amor pra você. Pai, senta aqui que o jantar tá na mesa, fala um pouco tua voz tá tão presa nos ensina esse jogo da vida, onde a vida só paga pra ver. Pai, me perdoa essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criança. Que um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredo nos teus passos você foi mais eu. Pai, eu cresci e não houve outro jeito, quero só recostar no teu peito pra pedir pra você ir lá em casa e brincar de vovô com meu filho no tapete da sala de estar. Pai, você foi meu herói meu bandido, hoje é mais muito mais que um amigo. Nem você nem ninguém tá sozinho, você faz parte desse caminho, que hoje eu sigo em paz. - Pai / Fábio Júnior -

sábado, 14 de agosto de 2010

Quase morte



Rindo, brincava no banco da praça com minhas sobrinhas. Escutei um som alto, levei um susto, mas logo sorri para as minhas pequenas novamente. As duas, sérias, olharam assustadas pra mim.
De repente, um calor na minha barriga, olho pra baixo e me vejo sangrando. Uma dor me invade, começo a suar frio. Todos a minha volta se desesperam. Me deitam no mesmo banco onde estava sentada.
E nesse exato momento o mundo se cala, comecei a ver um filme em minha mente. E garanto, não era um filme bom. Comecei a ver cenas da minha vida, e não eram as minhas melhores lembranças. E nem as piores, pelo menos não até aquele momento. Eram memórias ruins que outras pessoas tinham de mim. Coisas, sentimentos ruins que eu causei. Aquele filme era bem diferente do que eu costumava imaginar quando pensava no que poderia ser a morte pra mim. Sempre imaginei ver as melhores cenas, os melhores momentos, os melhores sorrisos. Mas que nada, comecei a ter nojo de mim ao ver tudo aquilo. Os momentos em fui indiferente com a minha mãe, o dia em que não dei atenção a um amigo que precisava de mim, o sorriso que guardei pra mim, porque estava estressada demais para doar a outra pessoa. O abraço que me neguei a dar num momento de raiva, e o olhar amigo e seguro pra aquela a quem eu sempre estimei e quem sempre esteve comigo. Palavras lançadas sem o menor pudor ou medo de magoar. Palavras contidas por vingança. Coisas ruins das quais eu nem lembrava mais, ou pelo menos não o meu consciente.
Depois de todas as cenas passarem lentamente em minha mente, vi o rosto da minha mãe, vi meu pai chorando, e meu namorado com as mãos na cabeça, quase tendo um colapso. Não, eles não estavam lá, mas a minha ânsia por vê-los foi tamanha que comecei a delirar. Escutei novamente o mundo, as pessoas naquela praça. Alguém gritou meu nome e tudo começou a girar. As vozes foram ficando distantes, tudo foi escurecendo e ...
Não, não poderia acabar daquele jeito. Não poderia morrer sem deixar o meu legado, não poderia partir para o Pai sem me fazer presente nesse mundo de uma forma boa, positiva. Só lembro de ter pedido a Deus a permissão de tentar mais uma vez, tentar ser diferente, tentar fazer diferente.
Acordei num quarto branco com um cheiro forte que não consegui identificar, me perguntando o que tinha acontecido realmente. Minha mãe estava sentada na poltrona e deu um salto quando que viu acordar, um grito. E quando menos esperava do outro lado surgiu ele, meu bem amado, meu namorado, chorando feito criança. Fez-se a festa. Meu pai, teimoso, com o cigarro entre os dedos, veio correndo me abraçar.
Meus amores, meus bens amados ali comigo. Não, eu não morri. Deus me proporcionou uma segunda chance. Um recomeço, uma oportunidade de fazer diferente, de ser diferente.
As dificuldades e obstáculos serão inúmeros, mas vou superar com o sorriso largo no rosto. Não vou desperdiçar tudo aquilo que Deus me proporcionou. Um amor, grande, único. No qual me agarro, me entrego por inteira. O amor Dele que me fez ressurgir de uma vida monótona e vazia. Deus, meu grande amor está me dando forças pra continuar e tentar o melhor.
Aquela bala acertou minha barriga, mas não acertou nenhum órgão, por um milagre. Mas Deus, ah, Ele acertou em cheio o meu coração. Eu já não sou mais o alvo. O alvo é o Céu, o meu alvo é o céu. E não era minha hora, Ele não permitiu. Vou vivendo de um jeito que o Céu seja o meu lugar.

domingo, 8 de agosto de 2010

A volta


Quase sem esperanças, triste e abatida, precisando de carinho. Todos dias passava próximo ao cais antes de ir para o trabalho, como numa tentativa de te ver, te encontrar em algum ponto do oceano. Sempre saia do porto com os olhos cheios d'água e com um aperto no coração. Era sempre a mesma coisa. Nada de você chegar. Um beijo eu jogo em direção ao mar, na esperança de você sentir o meu carinho de alguma forma.
Fim de tarde, todos saindo do trabalho, indo para casa. Olhos fixos no chão. Nada de sorrisos, eles já estavam gastos demais, e não tem combustível pra se manterem ali, vívidos, fortes. Cabisbaixa, sem planos para mais uma noite sem nossas conversas.
A rua enchia e ao passo que ia chegando mais próxima do porto comecei a ver um burburinho. Pessoas com faixas de boas vindas, eufóricas, alegres e pulando de alegria. Procurei entender o que estava acontecendo quando reconheci um rosto. Sim, sim! Era uma amiga minha, aquela a quem confessava minhas dores de saudade. Perguntei a ela o que estava acontecendo e ela logo me respondeu:
- São eles, Camila, são eles! Estão de volta, chegaram!
Assim que terminei de ouvir suas palavras, senti uma mão me puxando. Segurando minha cintura. Me puxou de um jeito que só uma pessoa faria. Sim , era ele. Meu amor, meu bem, meu bebê. Ao sentir e reconhecer seu toque, fechei os olhos. Deixei que ele me guiasse. Nossas bocas se encontram, já sabiam muito bem o caminho uma da outra. Nem o tempo e nem a distância mudaram determinas coisas, os caminhos, os jeitos e trejeitos. Muitas coisas mudaram, mas o amor, esse permanecia intacto, aliais, ele mudou um pouco, na verdade ele aumentou!
Um beijo, mão na cintura e uma gravata. Impossível descrever aquele momento. Alegria, frio no estômago, emoções a mil.
Dois meses longos, brigas pelo telefone, pazes feitas pelo messenger, momentos de saudades, noites de choro, tudo desfeito, tudo aplacado com um beijo. Um beijo simples, singelo, doce, amado, sutil, meigo. Chegou a ser surpreendente, foi além de qualquer expectativa. Como se fosse o primeiro, aquele cortejado, tão esperado e desejado, primeiro beijo.
E era como se esses dois meses tivessem voado. Nada mais parecia me abalar. Tristeza? Essa tá longe, muito longe. Lá na África pra ser exata. Deus me trouxe ele de volta, bem.
Mãos dadas, sorrisos largos, olhos nos olhos e fim de distância. Bem só não posso afirmar que é o fim da saudade. Porque essa, bem, essa está longe de ter fim.
Tarde a espera no cais? Ah meu bem, nem tão cedo!


Beijos cheios de saudade, ainda.


os próximos textos virão mais inspirados, mas com menos freqüência. Faculdade e trabalho ainda vão me matar. Mas escrever ameniza qualquer coisa ruim que possa ter em meu coração. Uma válvula de escape. Obrigada s2

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Confissões e confusões


Quase caindo de sono, sem inspiração. Moída, cansada, exausta e diria até muito um pouco estressada. Felizmente Infelizmente não bebo, então não posso pedir: "Um martini duplo, por favor." E pra falar a verdade, me afogar no álcool não é uma boa saída, eu sei. Erros, rabiscos. Uma semana cruel que se arrasta, pesada, lenta. Tudo acontece! Mas o que mais espero, mais anseio, atrasa, não acontece. Perdida no meio de livros, textos e leis. Presa nos meus pensamentos, problemas, neuras e defeitos. Um cubículo escuro, mal consigo me ajeitar. Quanto mais me conheço, mais percebo o tipo de ser humano que sou. Um ser limitado, mais coração do que qualquer outra coisa. Impulsiva demais. E por ser impulsiva, acabo magoando pessoas das quais tenho um apresso imenso. Por muitas vezes, em muitas situações me prendo a essas gafes, revoltas existências que afetam aqueles que estão a minha volta. Me consumo, choro e acabo me irritando mais. Vira um bola de neve, e eu ... bem eu viro uma bola, uma bola humana. Infelizmente meu biotipo não me permite extravagâncias gastronômicas. Sangue italiano, quente, com aquele requinte brasileiro, gingado. Mistura complicada essa. Só sei no fim de tudo sofro, muito. Mas o pior é que eu sei que esse sofrimento vale a pena. Será?
Minhas confissões e confusões no papel, eu mal me entendo e tanta gente se aconselha e desabafa comigo, e ainda dizem que eu ajudo. Até acredito, porque é muito fácil falar de um problema quando estamos fora dele. É muito fácil falar o que as pessoas querem ouvir. Vou pelo caminho mais difícil, em boa parte das vezes, pelo menos pra outras pessoas. Se me perguntar o que acho da situação, vou dizer primeiro o racional, o que você deveria fazer de fato, mas como já disse, sou muito mais emoção. Te direi o que eu faria no teu lugar, e pode crer, eu voltaria.
Um texto dirigido a mim, a você e a tantos outros. Não sei mais o que fazer, olho pro relógio e se passaram somente dez minutos. Como eu quero que essa noite acabe logo. Minha inspiração amiga que geralmente me vista a noite, não veio hoje, me deixou só. A mercê dos meus pensamentos insanos, confusos e dramáticos. A tristeza tenta se instalar nesse lugar umido e estranho, mas logo dou um passa fora nela. Não escrever sobre esse sertimento. Ela me angustia e me limita mais ainda. Quero manter meu sorriso, mesmo que confuso. Quero poder abraçar, ainda que isso seja difícil. O perdão é para os fortes, os fortes de coração. Uma decisão que eu tomei mais por mim do que por você. Acho que pra me tornar mais livre, menos limitada.
Mais confusões no papel. Contos os minutos pra sexta-feira chegar e dar fim a essa minha ânsia de sorrisos, carência de abraços e saudades de palavras que se revelam no silêncio de um olhar. Espero que quando ele voltar, essa tal inspiração volte e que essa confusão se aquiete e se esconda, ou se revele termine enfim. To cansada de tanta gente dizer o que me convém, as vezes eu sinto que o que realmente preciso é escutar meus próprios conselhos.
Ele que me abraça, me faz sentir segurança. Onde encontro o encaixe perfeito pra minha cabeça em seus ombros largos e protetores. Me deixa feliz, alegre, segura. Temos defeitos e limitações, mas quando está aqui, tudo diminui, tudo se transforma em uma fração de segundos.
Uns minutos pensando no nada e constato, não existe confusão. O que acontece é que tenho a certeza do que quero, mas sou limitada e não estou segura hoje, sei o que é o melhor, mas quero o pior. É talvez isso seja mesmo uma confusão.
Que se finde logo isso, que ele venha me proteger de mim mesma. Que venha me retirar dessa prisão, dessa cela que me faz ser mais limitada e frágil do que de costume. Um lugar onde as palavras não chegam, não saem e não se juntam de forma lógica. Um lugar escuro, umido de lágrimas que afasta qualquer tipo de inspiração. Uma prisão interna, dentro de mim mesma. Um lugar do qual não consigo sair sozinha, não consigo me encontrar sem aquela ajuda.
Me desculpem pelas palavras sem nexo, pela confusão, pelos rabiscos. Não costumo ser assim, mas a saudade deixa a gente assim, aprisionada. Um misto de sentimentos, todos ilógicos ou lógicos, nem sei mais. As únicas certezas que possuo neste momento é a de que Deus está ao meu lado e a de que o amor é maior do que qualquer distância física.
E esse conto que não é de fadas, ainda não teve um final feliz. Eu disse ainda ...

Palta para o Bloínquês 28ª Edição Visual
______________________________________________

E como que pra complementar esse meu desabado, um trecho de Ana Jácomo.
Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a ideia da alegria. Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz !

domingo, 1 de agosto de 2010

Desabafo de saudade


O navio se distanciando, todas nós estávamos arrasadas. A partida é sempre dolorosa, mas essa em particular doía mais, porque além de ires pra longe, não poderia nem ao menos poder falar contigo nesses dois longos meses. Raras seriam as ligações. Todas as amadas e amigas estavam reunidas para um último adeus. Doze dias em alto mar até o primeiro porto na África. Sem qualquer tipo de notícias, sinal ou qualquer coisa que fizesse meu coração ficar mais tranquilo, menos perturbado e preocupado.
Não consigo tirar de minha mente aquele dia, é como se um filme em câmera lenta passasse repetidamente em minha cabeça. Teu último sorriso, o mais delicado. Tua falta de palavras resumiam tudo o que estavamos sentindo, nossos olhos marejados traduziam qualquer coisa que se passava em nossos pensamentos, no nosso íntimo. Impossível escondemos qualquer coisa um do outro. Nossos medos e certezas confusos dentro de nós mesmos. Medo do que poderia te acontecer longe de qualquer olhar amigo que pudesse te amparar, cuidar da tua saúde e segurança. Pensava no que esse oceano enorme poderia te fazer até o teu destino final, rezava aos Céus para que nada te acontecesse. O mar estava agitado, me lembro bem, mas Deus escutava cada pensamento meu e antes mesmo que tua partisse, o mar se acalmou. O último beijo, que coisa boa. Um selinho que nos transmitiu paz, a paz necessária pra que meu coração paralisasse por um segundo e o teu dissesse ao meu: "olha, cuida bem da tua dona, não a faças chorar, que vou zelar por ela de longe, eu bato por ti, pelo amor que sentes por mim e por este corpo que me abriga." E meu coração voltou a bater num descompasso só, emocionado. E como numa resposta te puxei pra mais perto de mim e te de um último abraço, na intenção de que meu corpo te protegesse de qualquer coisa que pudesse te acontecer, pra que a cada porto e em qualquer lugar em que te sentisses sozinho, se lembrasse de mim, da minha proteção, do meu cuidado e zelo. Momento único, meu e seu. Nada mais poderia me fazer esquecer da tua face junto a minha.
Todos no cais estavam emocionados e eu diria que até dilacerados em parte, estavamos ali por um parente, um amigo, um irmão, um namorado esse era o meu caso, alguém amado e querido que partiria em missão pra África e com certeza levariam parte de nós. Parte grande de mim, eu diria. Tu não é algo vital para mim, mas é parte de mim, parte do que sou, fui e pretendo ser. A tua partida me deixa arrasada, mas vou seguir em frente, na espera de poder te ter aqui comigo novamente, para que possamos continuar a nossa história, juntos.
Marinheiros prontos, todos entrando em fila, para entrar naquele navio frio e cruel, que os levaria até um porto distante, longe de nós.
Então segurou minha mão e com a boca, voz, mãos e corpo inteiro me disse:
- O navio está me levando para longe, mas o nosso amor tudo supera. Parte grande de mim aqui permanece, ao teu lado, te sustentando até o dia em que eu voltar. O nosso amor nos dará forças, nos capacitará a enfrentar qualquer obstáculo que aparece em nosso caminho juntos. Eu te tenho em meu peito, gravada em mim, na minha essência, tu és parte integrante de mim, do que sou. Eu sempre estarei pensando em ti, não se esqueça disso. Lembre-se de que o maior motivo pra que eu lute para voltar inteiro, é você. E toda vez que a saudade apertar, pense que hoje falta menos do que ontem, é menos um dia longe de mim. Eu insisto em te dizer algo que desde que eu me vi amando você, amor não é uma palavra, é uma atitude, e todas as suas me revelam a imensidão do teu, do nosso amor - e enxugando minhas lágrimas ele continuou - Fica tranquila, minha pequena, quando eu voltar, tudo vai se ajeitar.
Quase não conseguindo falar, respondi até que de uma maneira firme:
- Volta logo pra podermos viver o melhor da vida, pra vivermos o melhor de nós dois. Com calma a gente vai se construindo, nos modelando um ao outro, pra sermos felizes de vez. Volta logo pra fazermos do eu e você um único nós. Eu vou ficar aqui, mas também estarei contigo a todo momento em pensamento. Vou ficar na espera, porque eu sei que vale a pena, eu sei que é de verdade, o nosso amor.
Um beijo na testa, um olhar triste e marejado, o velho sorriso no canto da boca ... e se foi.
_______________________________________________

Algo que eu vivo, com a coragem de quem ama de verdade, intensamente. A saudade e a distância física é quase nada pra quem ama e respeita. Eu acredito em namoro a distância, acredito naquilo que eu vivo e no que espero. Isso faz com que tudo o que temos seja mais valorizado e desejado, cada carta, foto, olhar, beijo, cada sorriso. Toda vitória infelizmente ou felizmente requer um certo sofrimento, vem com obstáculos. Não existe vitória sem cruz e se essa é a minha, a nossa, tenho certeza de que a nossa vitória será melhor do que podemos imaginar. Está acabando, faltam só cinco dias pra você voltar. Cinco dias para que meu sofrimento acabe, pra que a tua solidão se finde. Não quero mais que se sinta assim só, sem amigos e longe dos que te amam. Estou te esperando pra darmos o nosso primeiro beijo de volta, aquele simples e singelo gesto que nos uni.
Agradeço a Deus por ter colocado meninas que passam pela mesma situação que eu em minha vida. A saudade passa a ser compartilhada, e se torna menos dolorosa. Estaremos todas daqui há cinco dias, de braços abertos, sorrisos largos e felizes da vida, pela volta de nossos amores, nossos babies amados.
Amor, continue me cuidando daí, que estou te cuidando daqui.
Beijos da tua amada pequena, com muito amor.


Amar um militar não é uma posição física e temporária,
é uma missão, nossa guerra particular.
(Autor desconhecido)

Related Posts with Thumbnails
Licença Creative Commons
This obra by Camila Milano is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compatilhamento pela mesma licença 3.0 Unported License.
Based on a work at camilamilano.blogspot.com.