terça-feira, 31 de agosto de 2010

vazia


Pintei os lábios, saquei o delineador, passei delicadamente sobre minha pálpebra, conferi o blushe o sorriso. Estava tudo ótimo, aparentemente perfeito. Cabelo, look, make up completo!
Já eram quase onze da noite, a buzina soou. Desci as escadas, peguei a bolsa e entrei no carro. Era a Jenny, estávamos preparadas pra mais uma noite daquelas.
Chegamos e já ocupamos nossas mãos com tulipas de chopp. Fomos até a nossa mesa habitual e sentamos a espera de uma música que pudéssemos começar de fato a noite.
Veio a música, levantei e fui pra pista dançar. No caminho esbarrei com "ele". Doeu! Não pelo esbarro, mas pelo olhar dele. Frio, indiferente, pra ser exata. Toda a minha alegria, meio que se escondeu. Tentei me fazer de forte e indiferente também, mas por dentro estava sangrando.
Dancei o máximo que pude, tentando mostrar pra ele que eu estava bem, que ele não fazia falta. Que a presença dele ali não me atingia em nada. Que o nosso namoro já estava esquecido e enterrado em algum canto do passado. Mas como eu poderia enganar ele se na verdade o que eu estava fazendo era me enganando? Estava maquiando algo que me feria cruelmente.
Um carinha da facu, o Biel, se aproximou de mim, querendo dançar. Ele veio devagar, como quem não queria nada além de uma dança. Pôs seus braços ao redor da minha cintura, foi chegando mais perto, e mais perto, falando de mansinho no meu ouvido, até que me beijou. Na hora eu fiquei com raiva, porque o "cara" estava ali, vendo tudo, e jamais, pelo menos na minha cabeça, me perdoaria. Ledo engano, ele não estava nem ai pra mim ou pra qualquer babaca que se aproximasse de mim. Mas, depois me desliguei e comecei a curtir. Jenny sempre foi apaixona pelo Jonny, e lá estava ele, pronto pra receber todo o carinho que ela tinha a dar. Bebi o quanto pude, dancei até me acabar e fomos todos pra casa do Biel.
Passamos a noite juntos, eu e o Biel. Quando acordei, senti um nó na garganta. Meu coração e eu, num todo estava vazia. Peguei minhas coisas e deixei todos lá dormindo. Peguei o primeiro táxi e fui pra casa, ainda tonta e com uma dor insuportável na cabeça. No caminho olhando pela janela, comecei a refletir sobre tudo o que me levou àquele momento. Todas as coisas e pessoas a quem me entreguei sem o menor pudor, tudo o que fiz por ter colocado pessoas no centro do meumundinho. O fato de não conseguir tirar da minha cabeça e do meu coração alguém que só me faz mal, que é indiferente a tudo o que sinto, que nunca quis estar de verdade comigo. Vivo num meio onde todo mundo quer tudo imediato, pronto, ali na hora. Se não for assim, não rola. A felicidade é instantânea, tipo miojo, e dura pouco. Um mundo vazio de pessoas vazias, cujosobjetivos de vida são no fundo os mesmos que os meus, mas que não se dão o trabalho, e não querem admitir a verdade. Não querem sofrer, tem medo de se prender. De viver! Quem não se machuca, não costuma dar valor a vitória.
Um mundo imaturo e vendido, puro consumismo esse lugar em que eu vivo. A mídia comanda e eu sigo. Onde é muito mais válido ter do que ser. Não estou ausentando minha culpa não, de forma alguma. Só faço o que quero. será?
Não quero mais o vazio, o muito ter, e o pouco ser, to cansando disso. Quero olhar nos olhos de alguém e ter a certeza de que essa pessoa me ama pelo que sou e exatamente como sou.
Agora eu só quero deitar na minha cama sem a toda essa maquiagem no rosto e na vida, com o meu violão, e ter alguém pra me embalar, tocando músicas de ninar. Sou uma criança perdida, precisando de um rumo, ou talvez um simples abraço.

"Com receio de sofrer, homens realizam vasectomia no coração.
Com receio de sofrer, mulheres fazem ligadura no coração.
Ambos tornam-se indiferentes e descrentes. Ambos sacrificam a fertilidade, o inesperado, o porvir. São enterrados de pé. Viver não é racionar o que se conhece. O que se conhece é insuficiente. Os riscos fazem parte da euforia.Como a dor, a alegria também pode ser insuportável. Por receio da alegria, sofremos."

(Fabrício Carpinejar)

7 comentários:

Unknown disse...

Parece até minha historia, por incrivel que pareça me vir na historia! A diferença é que ele é o carinha da faculdade que não quer saber de nada e só me faz mal e mesmo assim eu gosto dele! Como pode né, eu gostar de uma pessoa que não tá nem ai pra mim? Pois é, espero que um dia isso passe sabe, pois faz um ano que sofro com isso! Aah depois se quiser eu te conto! Beijos Milaninho!

Emi disse...

Amei o conto! E o pensamento do autor que fechou é simplesmente brilhante!
Parabéns, linda!
Beijos!

Emi disse...

Ah, agradeço também o comentário, minha flor!Valeu pela delicadeza e pelo carinho, viu? *-* É muito importante para mim a presença de vocês! Beijoos e sucesso sempre!

chica disse...

Lindo teu conto.Muito legal!Boa sorte!beijos,chica

Ariana Coimbra disse...

Amei a história, parece ate que algumas partes você escreveu pra mim, ja vivi muito algumas coisas que tu citou!
Chega um dia em que aprendemos a nos amar em primeiro lugar, ai vamos percebendo o quanto fomos burras de ter dado tanto valor pra um cara que não estava nem ai pra gente!

Beijos e otimo fim de semana!

Kauana da Costa Rosa disse...

PERFEITO esse post!!
estou seguindo =)

Déborah Simões disse...

amei o post, como sempre....
tu escreve tão bem e de uma forma tão leve...
amo passar por aqui...
bjok, flor.

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